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A nação que produz ricos

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O Brasil está mais pobre do que já foi, e isso nada tem a ver com o coronavírus. Desde o ano de 2012, o PIB real brasileiro, descontada a inflação, vem caindo e, em 2019, restou em nível abaixo do verificado sete anos antes. Isso significa que hoje, neste país, se produz menos riqueza que se produzia no ano de 2012.
O ponto interessante é que, naquele ano, os bilionários brasileiros acumulavam cerca de R$ 346 bilhões, valor equivalente a 7% do PIB do país. Anos depois, em 2019, os membros dos clubes dos bilionários passaram a somar R$ 1,205 trilhão em riquezas, valor 400% maior do que o de sete anos antes, ampliando sua participação no PIB para 17%.

Acontece que boa parte dos bilionários brasileiros nem sequer mora no Brasil, mas conta com apoio decisivo do Estado brasileiro para construir suas fortunas. Paulo Lemann, Marcel Telles, Carlos Sicupira e, claro, Luciano Hang são proprietários de algumas das empresas que, entre 2012 e 2015, receberam mais de R$ 320 bilhões em financiamentos do BNDES. Joseph Safra, além de acusado de corrupção ativa e sonegação de R$ 1,48 bilhão em impostos, engorda seu patrimônio, como tantos outros bancos, com 32% do orçamento escoado dos cofres públicos para o pagamento de juros e amortização da dívida pública.

Só no ano de 2018, apesar da crise, os bilionários brasileiros aumentaram sua fortuna em R$ 230 bilhões. No mesmo ano, os 12 milhões de agentes públicos civis e militares, da Administração direta e indireta de todas as esferas de Poder, da União, dos estados, Distrito Federal e municípios receberam, a título de remuneração, um valor global aproximado de R$ 700 bilhões.

Isso significa que os pouco mais de 200 bilionários brasileiros (todos brancos) receberam em média 20 mil vezes mais que a média dos 12 milhões de médicos, professores, policiais, garis, fiscais e demais agentes do Poder Público.  Esses 12 milhões de agentes públicos, além de prestarem serviços a 208 milhões de conterrâneos, são responsáveis pelo sustento de 50 milhões de pessoas (25% da população brasileira) entre familiares e dependentes, bem como pelo giro de uma roda econômica local, que vai do lazer à construção civil, do turismo ao comércio de bens duráveis.

Há tempos, alguns bilionários tentam convencer a população, na base da desinformação, de que esses agentes públicos são o problema do Brasil e, hoje, mais uma vez abusando da desinformação, querem convencê-la a expor a si e a sua família a uma doença sabidamente violenta, não para salvar seu emprego, mas para minimizar prejuízos que eles próprios estão experimentando.

Quando a doença se disseminar e a estrutura de saúde pública não conseguir mais atender à demanda gerada pelos seus próprios anseios, eles, os bilionários, lavarão as mãos e voltarão a carga contra os funcionários públicos, acusando-os de ineficientes. E assim o ciclo continua. Enfim, como diria Mia Couto, "a maior desgraça de uma nação pobre é que em vez de produzir riqueza, produz ricos".



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